A Amazon não permitirá mais que você faça o download de ebooks comprados na loja dela em seu computador. O recurso, que permite o envio dos livros para o Kindle via cabo USB, será desativado no dia 26 de fevereiro. A partir daí, todas as compras serão enviadas para o Kindle via Wi-Fi, com a opção de ler no Kindle para web.
Em contato com o site The Verge, uma representante da Amazon confirmou o encerramento da função. “Os consumidores poderão ler livros já baixados em seu dispositivo Kindle e acessar novo conteúdo pelo app Kindle, Kindle para web, e também diretamente pelo Kindle via Wi-Fi”, explicou Jackie Burke.
O recurso de baixar no computador é remanescente dos primeiros anos da loja de ebooks, quando o Kindle ainda não possuía conexão Wi-Fi. Ele permite que o usuário baixe e até guarde uma cópia do livro em seu PC, e muita gente usa como um backup local da biblioteca, e assim driblar algumas remoções ou atualizações de livros, mantendo o original intacto.
Você tem até o dia 26 de fevereiro para garantir um backup local de todos os seus ebooks no seu computador. Você pode ver todos os seus ebooks Kindle da Amazon na página Gerenciar seu conteúdo e dispositivos.
O que essa mudança afeta
Além de não poder mais fazer um backup local da sua biblioteca, a mudança também dificulta a conversão dos livros digitais da Amazon em formatos que possam ser lidos por outros dispositivos. O arquivo baixado traz a extensão AZW3, que permite alterar o DRM facilmente com algumas ferramentas, permitindo que seja reescrito no formato EPUB, por exemplo, que pode ser enviado para o Kobo.
Desde 2015, a Amazon passou a usar o formato KFX nos arquivos enviados para o Kindle. Apesar de ser um formato mais poderoso, com renderização de fonte e layout melhorados, é quase impossível alterar seu DRM. É possível extrair o arquivo do Kindle, mas não há (pelo menos até o momento) ferramentas que permitam alterar seu formato de maneira que possa ser lido em outros leitores de ebook.
Depois de 26 de fevereiro ainda será possível enviar PDFs e outros arquivos compatíveis com o Kindle via Wi-Fi pela página Send to Kindle. Além disso, o envio via cabo ainda será permitido por aplicativos de terceiros, como o Calibre.
Conteúdo digital não é mais seu
Uma discussão que tem sido cada vez mais frequente nas redes sociais é o fato de o conteúdo digital não ser mais propriedade de fato de quem compra. O debate é bastante comum entre jogadores de consoles e PCs que compram as cópias digitais dos jogos nas lojas do Playstation, Xbox ou Steam e afins.
Se o jogo for removido dessas lojas e você não tiver uma cópia já instalada, não poderá mais jogá-lo. Há casos em que mesmo com o jogo instalado, não ser mais possível abrí-lo, já que muitos jogos modernos exigem um acesso à internet simplesmente para abrir.
O mesmo vale para os ebooks da Amazon. O site Good e-Reader notou que houve casos de livros que a Amazon atualizou em seus servidores e forçou todos os Kindles conectados a baixarem a nova versão. Isso pode afetar não apenas a formatação como o conteúdo do livro em si, trocando palavras com erros de digitação, por exemplo. Mas também pode funcionar para reescrever parágrafos e até livros inteiros — apesar de ser algo muito longe do comum algo neste sentido.
O pior é quando a Amazon simplesmente remove o livro de sua loja, deletando remotamente a cópia de quem o havia comprado. Isso também aconteceu em alguns casos, apesar de terem razões legais para isso. Livros de George Orwell, ‘A Revolução dos Bichos’ e ‘1984’ foram removidos e deletados de Kindles porque a editora que os publicou não detinha os direitos deles. Há casos de cópias ilegais que também foram apagadas remotamente.
Ou seja, caminhamos cada vez mais para uma era em que não somos mais donos, de fato, do que compramos. Claro que muita coisa sempre será física, estou falando aqui de arte e entretenimento, que é cada vez menos comum ser vendido em uma cópia física. Isso vale para jogos, filmes, séries, música e até livros. Este último, pelo menos, ainda é fácil de achar no formato impresso.
Via: Good e-Reader, The Verge