O Bluesky, que já existe há mais de um ano, virou o novo “queridinho” de jornalistas e editores de jornais que tentam explicar o que está acontecendo ao vivo e a cores — e, infelizmente, falham miseravelmente. A rede social, da qual eu faço parte desde abril do ano passado (com um hiato bastante longo entre o fim do ano passado e meados de 2024) seria uma “câmara de eco” da esquerda, segundo análises extremamente rasas de jornalistas americanos (principalmente).
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A verdade é que o Bluesky devolve ao usuário o controle do que ele vê na internet. Sem algoritmos para perfis que só sabem “farmar engajamento” e afins, a rede social tem uma série de ferramentas que permite ao usuário bloquear interações indesejadas na raiz. Como apontou Jay Peter no site The Verge:
Parte do interesse no Bluesky é que ele parece com uma versão melhor do Twitter. Mas no Bluesky, também há a sensação de que você pode controlar sua experiência no app. Este não é sempre o caso com o Threads, no qual a Meta faz as regras sobre o que aparece no feed algorítmico que ela constantemente empurra para você.
Assim como tudo na vida, o Bluesky tem seus pontos positivos e negativos. A seguir, vou falar um pouco mais sobre todas as ferramentas de controle do conteúdo (pontos positivos) e citar alguns problemas. Assim, se você resolver usar a rede social da borboleta, não precisará chegar por lá totalmente às escuras. Detalhe importante: as funcionalidades aqui descritas são a base do app e versão web do Bsky. É possível adicionar mais recursos utilizando instâncias diferentes ou adicionando categorizadores, por exemplo.
Antes de seguir, uma informação importante: o nome da publicação no Bluesky é post! Nada de ‘skeet’, ‘blueet’ ou seja o que for. É post e ponto final!
Você no controle da timeline
O mais interessante no Bluesky é que você pode criar múltiplas linhas do tempo, acessadas pelas abas na tela inicial. Eu uso muito a Following (seguindo), pois gosto de ver o que as pessoas que eu sigo estão postando. Mas há opções já prontas, como da Discover, que é interessante para descobrir quem seguir; e a Popular With Friends, que mostra o que seus seguidores estão curtindo mais. Mas não para por aí: existem feeds criados por usuários, que pode ser uma linha do tempo só com fotos, ou apenas com imagens de gatos e por aí vai.
E não é só isso. O controle do conteúdo vai muito além apenas de feeds: você pode configurar diversas ferramentas de moderação, que são em geral muito boas. Claro que não são perfeitas, mas eu, pessoalmente, nada tenho a reclamar.
E mais: você pode simplesmente ocultar posts para não ver mais interações (incluindo reposts e citações, além das respostas). Ou seja, se algum assunto lhe incomoda, basta sair silenciando os posts que falam sobre aquilo.
Em termos gerais, o Bluesky adota o mesmo ethos que a maioria das pessoas adota no mundo real. Você não tem nenhuma obrigação de ouvir um babaca abusar de você verbalmente só porque ambos estão no mesmo mercado. Você tem permissão de dizer a ele para calar a boca e sair do recinto. Mesma ideia.
Faine Greenwood em ‘A grande migração do Bluesky: eu respondo (algumas) de suas perguntas’ (em inglês)
Controle de interações
No Bluesky, você tem algumas ferramentas para evitar os “motoboys de treta” e afins. São configurações que você pode ajustar na hora de postar ou até mesmo depois. São elas:
- Citações: habilitar ou desabilitar o repost comentado”. Também dá para remover seu post de alguma citação posteriormente.
- Respostas: definir quem pode responder seu post: todos, ninguém, usuários mencionados ou usuários seguidos.
- Bloquear: diferente do X, você pode bloquear pessoas chatas e elas não poderão mais ler seus posts, te seguir ou interagir com você de nenhuma maneira.
- Silenciar: uma alternativa ao bloqueio, silenciar um usuário só o remove de sua linha do tempo e das notificações. A pessoa pode ler e interagir com suas publicações, mas você não verá respostas nem menções desta pessoa ao seu perfil.
- Listas de moderação: também é possível utilizar listas de usuários para bloqueio ou silenciamento massivo. Para isso, basta criar uma lista de moderação (ou pegar uma pronta de um mutual) e escolher se é para bloquear ou silenciar os usuários dentro dela. Qualquer nova adição será bloqueado ou silenciado automaticamente.
Filtros de conteúdo
Uma ferramenta realmente poderosa no Bluesky são os filtros de conteúdo. Com eles, é possível esconder total ou parcialmente alguns tipos de publicações, ou simplesmente liberar geral. Dá para fazer isso com imagens sexualmente explícitas, sugestivas, nudez não-erótica (artística) ou conteúdo gráfico (imagens impactantes).
Tudo isso está dentro das configurações, na parte de moderação. Cada tipo de conteúdo pode ser configurado separadamente em três opções: ocultar, avisar ou mostrar.
Ferramentas que também existem em outras plataformas
Além de silenciar pessoas, você também pode silenciar palavras ou tags, uma ferramenta existente também no X (por enquanto, nunca sabemos quando o dono da rede vai resolver extinguir essa função quando descobrir que muita gente silencia o nome dele — eu mesmo fiz isso até antes de ele comprar o Twitter).
Forçar engajamento não vinga (como nas outras redes, ao menos)
Com todas essas ferramentas e a pouca importância do algoritmo, “farmar” engajamento não costuma dar certo no Bluesky. Muitas vezes, perfis que aparecem com polêmicas unicamente para gerar irritação nos outros usuários recebem bloqueio massivo, seguido ainda de denúncias à plataforma. A depender do tipo de conteúdo da publicação, o perfil é simplesmente derrubado da rede social.
Isso acontece quando qualquer publicação fere os termos do Bluesky. Sim, diferente das outras redes sociais, a equipe da borboleta consegue manter controle e respeita em boa medida os termos da plataforma, colocando-os em prática. Isso mantém um nível de segurança mínimo principalmente para minorias, que sofrem menos com ataques ao simples fato de existirem e serem como são.
O ódio gratuito, ao menos, é muito mais controlado no Bluesky. Porém é claro que de vez em quando algum usuário ou assunto vira assunto interminável e ganha tração quando deveria simplesmente ser ignorado. Ainda estamos falando de pessoas que passaram a última década (no mínimo) vivendo de redes sociais que fazem parecer que qualquer assunto é o mais importante e precisa ser comentado.
Notificações que importam
A aba de notificações do céu azul mostra unicamente as interações que você recebe. Nada de.”seleção especial para você” ou “você pode gostar”. Nada de “fulano comentou na postagem de ciclano”. Só novos seguidores, respostas e reposts. Ou seja, só o que você realmente quer saber.
Melhor que o Threads
Vários recursos do Bluesky começaram a ser copiados pelo Threads, mas nem tudo está lá (ainda, e acho que nem tudo será adotado). Uma delas é a linha do tempo com publicações de quem você segue. Mas o algoritmo ainda é o principal ponto de venda da rede social de Mark Zuckerberg.
E aí eu vou na do Bluesky: se é pra ficar em uma rede social que copia outra melhor, por que não ir logo para a plataforma que está sendo copiada? Não precisa esperar a boa vontade do dono bilionário e seus desenvolvedores implementarem os recursos bons.
Nem tudo são flores
Claro que o Bluesky tem seus pontos negativos, como tudo na vida. Vou focar mais na parte técnica, porque outras questões acabam sendo mais subjetivas. Até mesmo os pontos que citarei a seguir podem não ser unanimidade, e está tudo bem. Lembre-se: eu mesmo estou usando o Bluesky apesar desses problemas.
Muitas repetições
No Bluesky, quando qualquer pessoa que você segue reposta ou responde uma publicação, ela volta para o topo do feed Seguindo (Following). Isso é bem chato, porque às vezes você vê o mesmo post diversas vezes, porque todos os seus seguidores curtiram muito e repostam enquanto você desce a linha do tempo e recarrega para ver novas publicações.
Eu incluiria uma regra de não exibir novamente um post que você já visualizou há algum tempo para evitar essa repetição. Três horas já ajudaria bastante, dá tempo de você “esquecer” aquele post e, vendo de novo, talvez rir novamente daquela piada.
Não dá para trancar o perfil
Até hoje, o Bluesky não permite que o seu perfil seja privado. Esse recurso já foi vastamente pedido por usuários brasileiros, mas as súplicas jamais foram atendidas (ao menos não até a publicação deste artigo).
Não pode remover seguidor
A rede social do céu azul também não tem o ‘soft block’, ou seja, não nos permite remover uma pessoa dos nossos seguidores. Ou seja, se alguém que você não quer que te siga, mas também não quer bloquear, não tem o que fazer. A pessoa ficará ali te seguindo para sempre, a menos que atenda ao seu pedido de parar de te seguir.
Sem filtro nas notificações
Apesar de as notificações serem apenas aquelas que realmente lhe interessam, não tem como criar um filtro. Quer dizer, tem um, experimental, mas não é o que eu gostaria: ele prioriza citações e respostas de quem você segue. Ou seja, pode perder de quem você ainda não segue, e poderia criar um laço novo.
Felizmente, é possível utilizar um feed para focar nas menções (principalmente as respostas). Assim, você não se perde em meio ao monte de novos seguidores ou reposts que alguma publicação sua trouxe. Pode hitar a vontade que é possível responder a todos.
Instabilidades
Isso é normal para um serviço ainda novo e que passa por períodos de grande crescimento espontâneo. Sempre que começa uma migração massiva do Twitter para o Bluesky, a rede da borboleta passa por um tempo de instabilidades. Mas mesmo sem o registro de milhões de perfis novos por dia, há momentos em que os servidores parece que param todos juntos para fumar um cigarro e os posts demoram para carregar, mídias deixam de aparecer e por aí vai.
É o momento em que o céu fecha, o azul fica cinza e a ameaça de temporal está visível. Só resta esperar aguardar o céu desabar (ai, desabou, me iludiu!).
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Que artigo legal! Muito completinho e didático. Venham pro Bluesky, mas deixem o ódio e os vícios causados pelo X do lado de fora… 🙂