Nomofobia: nova palavra do português? Não é bem assim

Ontem, quinta-feira, 20 de fevereiro, abri o Google Discovery no celular para dar uma lida em matérias interessantes que ele poderia ter separado para mim. Aí apareceu uma publicação do site Concursos no Brasil do dia 17 declarando que “nomofobia” seria a nova palavra do português, segundo a Academia Brasileira de Letras (ABL). Achei interessante e resolvi pesquisar.

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Essa palavra aparece na página do Ministério da Educação que fala sobre o decreto do uso de celulares nas escolas brasileiras. Logo, vi uma oportunidade de, quem sabe, fazer uma nota sobre essa inclusão dela no dicionário da ABL e aproveitar o gancho para explicar sobre o decreto dos celulares nas escolas.

Tudo aparentemente perfeito jornalisticamente falando. Exceto por um problema: nomofobia não é uma palavra realmente nova no dicionário da ABL. Sim, ela foi reconhecida como “nova palavra”, mas já tem algum tempo. Mais especificamente, já tem quase três anos!

Republicar sem checar, a “nova ordem” do “jornalismo” de internet

Uma busca no Google por “nomofobia abl” retorna dezenas (chutando baixo) de resultados de sites declarando que a palavra “acaba de ser reconhecida” pela academia literária nacional. Entre os vários resultados que encontrei, um dos mais antigos data de 7 de fevereiro. Não sei se foi o que levou todos os outros a repetirem a publicação.

O problema é que ninguém checou a informação. A palavra, como já falei, consta realmente do banco de dados de novas palavras da ABL. Mas a página da academia não mostra data no front-end (parte visível do site), o que dificulta a verificação. E, como eu sei muito bem, a maioria dos sites hoje tem a ordem de publicar as coisas o mais rápido possível para “ranquear no Google” ou “aproveitar a tendência”. E que se lasque o jornalismo!

Código fonte da página sobre nomofobia no site da ABL (Captura de tela)

Bom, eu fiz o mínimo e, com cerca de 20 minutos de pesquisa, consegui encontrar a data de publicação tanto no Google quanto no código-fonte da página da ABL. E, pasme, nomofobia foi adicionada no banco de dados em 26 de abril de 2021! Ou seja, quase três anos antes de vários sites (supostamente) jornalísticos publicarem que é a mais nova palavra do português.

É muito triste a verdade sobre o jornalismo de internet atualmente. Não importa a checagem correta dos fatos, só importa dar um jeitinho de “aproveitar tendências” e “aparecer no Google”. A ordem em muitas redações, já faz algum tempo, é republicar o mais rápido possível. Se precisar, checa depois, apaga e finge que nada aconteceu.

Ok, mas o que é nomofobia?

A ABL define nomofobia como o medo de ficar sem o celular. A palavra é uma “Uma mistura de grego (phóbos) com inglês moderno (no mobile)”. As duas definições exatas da palavra são:

  1. Medo patológico de ficar sem acesso ao telefone celular (internet, redes sociais, aplicativos, contatos, fotos e funções em geral) ou dispositivos eletrônicos semelhantes, como o computador ou o tablet.
  2. Condição ou transtorno psicológico que se manifesta pela dificuldade, por parte de um indivíduo, de se desconectar destes aparelhos ao longo do dia. [Do inglês nomophobia, formado a partir de no mo(bile) phobia.]

Uma palavra que já está por aí desde, pelo menos, 2017. Em 2018, a nomofobia foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como um transtorno.

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