O que é o Rumble, que acusa Alexandre de Moraes de censura

A rede social Rumble protocolou, junto ao grupo de mídia de Donald Trump, um processo contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. As empresas acusam Moraes de censura e pedem que a derrubada de conteúdo a pedido do juiz não tenham efeito nos Estados Unidos, enquanto ele exige que a plataforma nomeie um representante legal no Brasil.

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O caso acabou ganhando visibilidade por aqui devido ao fato de, além de processar um ministro de corte suprema, vir de uma rede social pouco conhecida. Afinal, o que é o Rumble, essa plataforma que poucos brasileiros conheciam até recentemente?

A plataforma cresceu muito principalmente após os ataques ao Capitólio, em janeiro de 2021, por pessoas que questionavam os resultados das eleições nos EUA. Apoiadores de Trump recusaram reconhecer a vitória de Joe Biden. A partir daí, uma rede que tinha como principal conteúdo os vídeos de gatinhos deu uma forte guinada e passou a ser refúgio de extremistas da direita, incluindo brasileiros investigados pelo STF e proibidos de manterem perfis em redes sociais.

Origem canadense e começo com vídeos de gatinhos

O Rumble foi lançado em 2013 como uma alternativa ao YouTube, com a promessa de não ter competição com grandes marcas. Assim, produtores de conteúdo independentes poderiam aumentar seu alcance. A empresa tem origem em Toronto, no Canadá, e foi criada por Chris Pavlovski, que entrou para a lista de bilionários da Forbes em janeiro de 2024.

Até 2021, a rede era recheada de vídeos de gatinhos e de bebês dançando. Mas isso começou a mudar com a pandemia de COVID-19. Como o YouTube começou a remover alguns conteúdos por desinformação e suspender contas que insistissem em publicar conteúdos com informações imprecisas, alguns criadores começaram a buscar alternativas à plataforma do Google.

Foto de um celular na tela inicial do site Rumble, muito parecido com o YouTube
Rumble possui interface muito parecida com o YouTube (Felipe Junqueira/Nanobits)

Em agosto de 2020, o deputado republicano Davin Nunes acusou o YouTube de censura. Ele foi um dos primeiros produtores mais influentes a partir para o Rumble, iniciando uma onda conservadora na plataforma canadense. Foi o começo do fim dos vídeos inocentes de gatinhos, que deveriam ser patrimônio cultural da internet.

Mas a rede social só estourou mesmo em 2021, com a invasão do Capitólio. O valor da empresa chegou aos US$ 500 milhões de dólares com a quantidade de vídeos incitando a violência, enquanto outras redes sociais apagavam conteúdo e suspendiam contas. Isso intensificou a migração de produtores de conteúdo de direita para o Rumble, que aproveitou para criar a Rumble Ads, sua própria plataforma de anúncios.

Forte guinada à direita

A partir daí, começou uma onda de investimentos de figuras políticas dos EUA na plataforma. Em maio de 2021, aliados de Trump injetaram milhões na plataforma. Entre os nomes que despejaram dinheiro estão o atual vide-presidente J.D. Vance e Peter Thiel, conhecido por ser um dos participantes da “máfia do PayPal” do governo atual.

Trump, que foi banido das principais redes sociais após a invasão do Capitólio, abriu um perfil no Rumble em junho. Mas foi apenas em dezembro que ele assinou contrato de parceria com a rede social. Assim, sua rede de microblogs Truth Social passou a ser parcialmente operada pelo Rumble. A empresa abriu capital na bolsa de valores Nasdaq no ano seguinte, e desafiou uma lei do estado de Nova York contra discurso de ódio nas redes sociais.

Em 2023, a rede abriu seu primeiro escritório nos EUA, na Flórida. Meses depois, ficou com os direitos exclusivos de transmissão ao vivo dos debates das primárias do Partido Republicano. No mesmo ano, a plataforma cortou acesso aos brasileiros, alegando que o STF enviou ordens judiciais para “remover certos criadores”.

Briga com Alexandre de Moraes

O blogueiro Allan dos Santos, réu na corte por disseminar notícias falsas e ataques aos ministros do STF, mantém um canal na plataforma. Ele está impedido de manter perfis em redes sociais por conta do processo na justiça. E é apenas um dos vários investigados no Brasil por postagens com teor golpista e ataques às instituições que mantêm canal no Rumble.

O Rumble voltou a funcionar no Brasil em janeiro deste ano. O canal de Allan dos Santos segue no ar. Moraes deu 48 horas (iniciadas na quinta-feira) para a rede social nomear representante legal no Brasil. Os antigos advogados da empresa renunciaram ao cargo, deixando a empresa sem representantes.

A lei brasileira prevê que toda empresa que opere no país, mesmo que apenas como um serviço online, tenham um escritório com representantes no território brasileiro. Essa regra não é, nem de longe, tão rígida quanto o que os EUA pretendem fazer com o TikTok, forçado a ser vendido para empresários ou companhias que tenham ligação com o país.

Solenidade de Posse dos Ministros Alexandre de Moraes e Enrique Ricardo Lewandowski nos cargos de Presidente e Vice-Presidente do TSE
Alexandre de Moraes enfrenta ação na justiça da Flórida (Isac Nóbrega/PR via Wikimedia Commons)

“Os canais/perfis do investigado Allan Lopes dos Santos nas redes sociais são usados como verdadeiros escudos protetivos para a prática de atividades ilícitas, conferindo ao investigado uma verdadeira cláusula de indenidade penal para a manutenção do cometimento dos crimes já indicados pela Polícia Federal, não demonstrando o investigado qualquer restrição em propagar os seus discursos criminosos”, declarou Moraes.

A plataforma protocolou na justiça da Flórida uma ação contra o ministro do STF, movimento considerado por especialistas em direito descabido e uma afronta à soberania brasileira. “Como um juiz de um estado, vai processar um ministro de uma Corte Superior de outro país?”, questionou o doutor em Direito Internacional, Paulo Lugon.

O CEO do Rumble disse que não atenderá aos pedidos de Moraes. “Oi, Alexandre de Moraes, a Rumble não cumprirá suas ordens ilegais. Em vez disso, nos veremos no tribunal”, escreveu Pavlovski, em uma rede social.

A ação na justiça da Flórida foi ajuizada um dia depois de Moraes denunciar o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentar dar um golpe de estado no Brasil. não há informações se os dois assuntos estão diretamente relacionados ou se foi algum tipo de coincidência bastante peculiar.

Fonte: Wikipedia (en), Agência Brasil

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