O que são as robocalls que perturbam e causam prejuízos a brasileiros

Seu telefone toca, você atende e do outro lado há apenas silêncio. A ligação, aparentemente, cai em até seis segundos.

Essa cena, muito comum no dia a dia de milhares de brasileiros, é uma espécie de “prova de vida”. São ligações automáticas, feitas por robôs a partir de números inexistentes, para testar linhas ativas. Das cerca de 20 bilhões de chamadas feitas por mês no país, metade são esses testes, que atrapalham nossas vidas e já causaram perdas de oportunidades de emprego e até de transplantes de órgão para algumas pessoas.

Foto de um prédio com neo escrito E sex Inn Meta AI permitiu conversas sexuais explícitas — mesmo com menores 29/04/2025 | - IA da empresa dona do Facebook simulou encontros românticos e sexuais usando vozes de famosos como John Cena e até princesa da Disney
Uma pessoa com capuz e boné tem o rosto encoberto por sequências escritas em verde e a expressão "system failure" 4chan volta ao ar duas semanas após invasão e suposto vazamento de dados 28/04/2025 | - Plataforma de publicação de imagens por anônimos foi importante banco cultural da internet, mas tornou-se criadouro de extremistas de direita

Uma reportagem do Fantástico mostrou como funcionam as robocalls — ou chamadas de curta duração —, e explicou que, em alguns casos, empresas que realizam esse tipo de serviço cometem crime. A Anatel já tem ciência do problema e busca solução para dar um fim a essa chateação.

Números virtuais dificultam o bloqueio

Segundo a reportagem, muitas das robocalls são feitas a partir de linhas virtuais inexistentes. Por isso, ao tentar retornar para o número que ligou, você recebe um aviso de que o número não existe. Até aí não há nada de muito grave, mas o assunto não para por aí.

Você provavelmente já cadastrou o seu número no “Não Me Perturbe” da Anatel — eu cadastrei, por exemplo. Mas mesmo assim, recebe essas chamadas insistentes, assim como eu. Empresas que fazem esses testes têm listas com informações vazadas.

São mailings com nomes, números de telefone e até a profissão das pessoas. Como muitas dessas listas ignoram o cadastro na Anatel, podemos concluir que elas rodam sem autorização prévia dos cadastrados.

Além disso, muitas empresas alteram o DDD da chamada, o que viola a lei brasileira. Dessa forma, uma empresa de São Paulo que contrata o serviço pode ligar para números do Rio de Janeiro com o DDD 21, em vez do 11. Somado ao fato de serem números fictícios, fica praticamente impossível bloquear essas chamadas.

“O sistema pega sua lista, todos os números, e liga para cada um deles. É disparo em massa”, explicou uma funcionária de uma empresa contratada pelo Fantástico para fazer a investigação.

Já o advogado especialista em crimes cibernéticos José Milagre diz que “isso pode caracterizar fraude eletrônica com pena de até oito anos de reclusão”.

O coordenador de telecomunicações do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), Luã Cruz, explica que “é uma prática desleal e abusiva, condenada pelo Código de Defesa do Consumidor”.

Prejuízos na sociedade

Por conta dessas ligações de curta duração, o brasileiro parou de atendes ligações. Mas isso pode acabar causando prejuízos, como a perda de uma oportunidade de emprego e até de um transplante aguardado. Para algumas pessoas, driblar essas chamadas ao simplesmente não atender ou até ativar o modo avião e depender apenas de redes Wi-Fi pode simplesmente não ser uma opção.

De acordo com Jaqueline Bica, da central de transplantes da Santa Casa de Porto Alegre, pacientes já perderam o transplante porque se recusaram a atender o telefone. O mesmo acontece com oportunidades de emprego. “Se nós ligamos e o profissional não atende, a gente tem que ir para o próximo”, explica Silvana Ribeiro, gerente de recursos humanos.

As robocalls também são usadas por golpistas para aplicar fraudes. Eles aproveitam o sistema informatizado com números inexistentes e ainda utilizam modelos prontos na internet para gravar áudios. Alguns golpes gravam a voz das vítimas para ser usada em outros contatos.

“São ligações muito autênticas, parecem reais”, diz o advogado José Milagre. “Muitos criminosos vão pedir, vão forçar você a dizer palavras como ‘sim’ e ‘não’, porque isso pode ser gravado e utilizado contra você em outros contratos. Então jamais diga nenhuma palavra, não interaja. Bloqueie esses números”, alerta.

O que fazer para se proteger

Imagem de um celular que recebe uma chamada suspeita de spam
Smartphones atuais têm detectores de SPAM integrados, mas nem sempre funciona (Divulgação/Samsung)

Infelizmente, não tem muito o que fazer para evitar as robocalls. Você pode parar de atender ao telefone, como muitos brasileiros já fizeram, mas isso pode causar outros tipos de prejuízos. Assim, resta tomar alguns cuidados:

  • Não interagir com chamadas suspeitas (principalmente evitar dizer “sim” ou “não”).
  • Verificar se o seu telefone está com o detector de chamada spam ativo.
  • Cadastrar seu número no Não Me Perturbe.
  • Denunciar à Anatel e Procon.

O serviço Não Me perturbe, da Anatel, bloqueia apenas uma parcela das ligações de telemarketing. Demora 30 dias para começar a valer, e pode ser uma medida para reduzir a quantidade de chamadas que você recebe por dia. O restante, você pode denunciar para a Anatel e para o Procon.

A maior parte dos smartphones atuais possuem um detector de spam e scam integrado. Ele vem ativado por padrão, mas o bloqueio dessas chamadas precisa ser ativado. Busque por ‘spam’ nas configurações do seu aparelho para encontrar a função e ativar essa barreira adicional.

É pouco, é verdade. Você pode evitar atender números desconhecidos, mas, de novo, isso pode causar outros tipos de prejuízos, como perder uma oportunidade de emprego.

Anatel implementa medida para combater robocalls

De acordo com a Anatel, medidas para combater as ligações de curta duração já conseguiram reduzir mais de 222 bilhões de chamadas entre junho de 2022 e março deste ano. A superintendente de relações com consumidores da agência, Cristiana Camarate, explica que há uma nova medida em implementação, batizada de “origem verificada”.

“Quando o seu celular tocar, vai aparecer o nome e a logo da empresa e o motivo pelo qual ela está te ligando. Então, se o consumidor quiser atender naquele momento, ele pode atender com tranquilidade. Não será uma fraude”, esclarece.

O órgão não informou um prazo para que a medida seja totalmente implementada.

Gostou do conteúdo? Conta pra gente nos comentários, fique à vontade para deixar sua opinião (com bom senso e respeito, claro). Não esquece de seguir o perfil do Nanobits no Bluesky, no Twitter e no Telegram. Você também pode seguir a página no Facebook, o canal no WhatsApp e participe de nosso grupo de conversas.

Fonte: G1

Deixe uma resposta