Justiça dá 90 dias para Apple mudar pagamentos na App Store no Brasil

Uma longa batalha entre a Apple e o Cade no Brasil ganhou um novo capítulo na última quinta-feira, 6. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) suspendeu uma liminar preventiva que protegia a Maçã de adotar mudanças nas formas de pagamento da App Store no país. A empresa teria 90 dias para aplicar as alterações, mas ainda cabe recurso, e o caso está longe de terminar.

Loja da Apple Apple consegue vitória para não abrir iOS para lojas de terceiros no Brasil 21/03/2025 | - Justiça volta a suspender liminar do Cade que obriga Apple a aceitar lojas de terceiros e outras formas de pagamento na App Store do iOS
Galaxy S23 na cor creme em cima de uma bancada branca com formas geométricas em volta Preço de celulares cai em fevereiro, mas procura também diminui 20/03/2025 | - Galaxy S23, da Samsung, foi o celular mais buscado em fevereiro, com iPhone 15 e iPhone 16, ambos da Apple, completando o pódio

O TRF-1 entendeu que as mudanças exigidas pelo Cade não são urgentes, e deu 90 dias para a Apple se adequar no país. Com isso, foi derrubada a liminar que suspendia decisão do Cade, mas com um tempo razoável para a companhia adotar as mudanças. Na decisão, o juiz argumentou que a decisão do órgão antitruste seria justa:

“A estrutura fechada do iOS e as limitações impostas à comercialização de aplicativos por terceiros são justamente os fatores que justificam a atuação preventiva da autoridade antitruste, pois mantê-los sem qualquer intervenção pode comprometer a entrada de novos concorrentes e inviabilizar a recuperação da concorrência no setor.”

Além disso, o juiz citou decisões semelhantes tomadas em outros países, como a Europa, onde já é permitido que terceiros ofereçam lojas de aplicativos para o iOS e formas de pagamento diferentes do Apple Pay. Uma vez que, até agora, não foi notado “impacto significativo” ou “prejuízo irreparável” nesses países, como alegado pela companhia, o juiz ainda considerou que a mudança “não inviabiliza o modelo de negócios da Apple”.

A Maçã mantém sua postura de que tais alterações “podem prejudicar a privacidade e a segurança” dos usuários. A empresa ainda acredita que enfrenta “concorrência em todos os segmentos e jurisdições” onde opera. Como esperado, a companhia disse que vai recorrer da decisão, que ainda tem um longo caminho até chegar ao STF, onde provavelmente será tomada a decisão final para o caso.

Cade usa União Europeia como exemplo; Apple diz que mudanças tornam sistema “menos seguro”

A novela começou no final do ano passado, após uma queixa movida pelo Mercado Livre. No final de novembro, a Superintendência Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) emitiu uma liminar obrigando a Apple a abrir seu ecossistema para terceiros, igual ao que ocorreu na União Europeia.

A medida deu 20 dias para a Maçã se adequar às mudanças. Entre elas, está a adição de outras formas de pagamento em compras dentro dos aplicativos e outras opções de pagamento na compra de apps. A Apple também deveria permitir aos desenvolvedores que informem sobre outras maneiras de aquisição do produto ou serviço e incluir links externos. Adicionalmente, devs teriam o direito de distribuir apps para o sistema iOS em lojas diferentes da App Store, o chamado sideloading.

A liminar ainda previa multa de R$ 250 mil por dia caso a empresa não fizesse as mudanças.

Loja da Apple
Apple diz que medida “ameaça drasticamente” a segurança do sistema operacional do iPhone (Zhiyue/Unsplash)

A Apple recorreu, dizendo que a medida “ameaça drasticamente” os protocolos de segurança e privacidade do iOS. Além disso, a companhia defende que não há “qualquer justificativa legal” para modificar o funcionamento da App Store, destacando que “o design integrado do iPhone e o modelo de negócios da App Store permanecem, de modo geral, os mesmos há mais de 15 anos”.

Sobre a SG-Cade considerar as regras da App Store e do iOS como anticompetitivas, a Maçã afirmou que foi aplicada “arbitrariamente uma punição completamente irrazoável e desproporcional”. A big tech ainda defendeu que a liminar baseia-se em “bases e teorias sem precedentes” e que a adequação tornaria o iOS “um produto menos seguro, privado e protegido”.

Por fim, a empresa de Cupertino afirmou que “a ordem é irrazoável ao determinar a implementação de mudanças técnicas complexas dentro de um prazo irreal”. Segundo a companhia, o prazo de 20 dias para adequação seria impossível de cumprir.

A liminar foi derrubada no início de dezembro, após o juiz Eduardo Santos da Rocha Penteado, da 14ª Vara Federal Cível, aceitar os argumentos da Apple. Agora, no início de março, o TRF-1 derrubou a suspensão, mas deu o prazo de 90 dias para a adequação do sistema da Apple. Como já mencionado, ainda cabe recurso, e o caso deve acabar no STF após longa novela.

Fonte: TeleSíntese, MacMagazine