Cavaleiros do Zodíaco é um fenômeno que ajudou a estourar a bolha dos animes no Brasil lá nos anos 1990. A série, baseada no mangá escrito por Masami Kurumada, foi criada inicialmente para que a Bandai vendesse bonecos, e conseguiu ir bastante além. Afinal, que criança dos anos 1990 não teve pelo menos um boneco de Cavaleiros do Zodíaco “com armaduras de metal”?
Produzida 30 anos após o fim da série original, Knights of the Zodiac: Saint Seiya (‘Cavalerios do Zodíaco: Saint Seiya’) estreou em julho de 2019 na Netflix. Depois de uma temporada em duas partes, a série foi abraçada pela Crunchyroll, que já produziu outras duas temporadas. Por ora, a série já abarcou todos os eventos da Batalha das 12 Casas e tudo o que precedeu esta “invasão” ao Santuário.
Logo depois de rever a animação clássica, me aventurei a assistir esta nova animação 3D (que eu tinha visto apenas os 6 episódios iniciais lá em 2019). A seguir, listo alguns pontos que achei positivos e outros que achei negativos nesta nova produção.
Tem spoilers? A meu ver, não. Primeiro, porque a história já é antiga. Segundo, porque não acho que mencionar nada do roteiro estrague realmente a experiência de acompanhar as aventuras de Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun, Ikki e Saori. Mas, se você acha que qualquer revelação sobre roteiro é um spoiler, melhor não ler muito a fundo antes de assistir à série (além de estar errado sobre o que é spoiler).
O que eu gostei
1. Mudança positiva na “origem” da Atena Saori
Mudou a história da Atena falsa x verdadeira, agora os acontecimentos são baseados em uma profecia. Mudança muito positiva, em minha opinião. A dualidade de haver uma Atena falsa era bastante bizarra, se pararmos para pensar. Do nada, a neta de um multimilionário japonês se apresenta como reencarnação de Atena, só porque sim, e declara guerra ao Santuário.
Nada disso: agora todos sabem que Saori é Atena, mas temem que se realize uma profecia sobre ela. Com isso, não ficamos mais nos perguntando que bebê Shura pensou ser carregado por Aiolos no início da história. E provavelmente, tanto ele quanto Saga pensaram ter matado a bebê Atena junto com o cavaleiro de ouro de Sagitário, até descobrirem que não, muitos anos depois.
2. Cavaleiros de bronze não são meio-irmãos
Aquela história de Mitsumasa Kido ter 100 filhos com mulheres diferentes foi descartada. Os cavaleiros de bronze, inclusive, têm histórias diferentes até chegar ao treinamento, e alguns deles treinam por mais tempo que outros antes de conseguir a armadura.
3. Mais semelhanças com o mangá
A Toei fez uma série de modificações que acabaram rendendo furos no enredo de Cavaleiros do Zodíaco no anime dos anos 1980. Desta vez, com o mangá já pronto antes do início da produção, os roteiristas puderam se embasar melhor na construção da história.
Entre alguns dos pontos posso citar o Hyoga ter sido treinado por Camus e ir à Guerra Galáctica com a intenção inicial de matar Saori. A luta entre Saga e Ikki antes de Seiya salvar Atena, incluindo o final com a morte do Fênix pela Explosão Galáctica do cavaleiro de Gêmeos — golpe que só seria visto no anime original na saga de Poseidon, utilizado por Kanon.
Também vimos Afrodite se deslocar até a Ilha de Andrômeda para matar o mestre de Shun, que é Dédalo de Cefeu, e não Albiore. Também vemos dois suicídios na tela, como Kurumada mostrou no mangá: Cassius se mata na frente de Aiolia para livrá-lo do Satã Imperial do Mestre do Santuário. Posteriormente, Saga se mata na frente de Atena por não suportar a dor do que fez desde que tentou matá-la ainda bebê.
Outro ponto que ficou mais alinhado é a aparição dos cavaleiros de prata, um seguido do outro, sem tempo para os cavaleiros de bronze se recuperarem entre as batalhas. Também são menos enviados do Santuário, sem a inclusão de personagens extras como ocorreu no anime.
4. Shun é mulher e aboliram a aberração das amazonas usarem máscara
O fato de Shun ter sido tornado mulher não altera em absolutamente nada a história em si. Fica até melhor vermos a amazona de Andrômeda, a mais poderosa entre os cavaleiros de bronze, que opta por não usar seu poder.
De quebra, acabaram com a história besta de as amazonas terem que usar máscara. Aliás, muitas passagens altamente misóginas do anime original foram removidas nesta nova adaptação — ajustando-se aos novos tempos, o que também considero positivo.
5. Ausência dos cavaleiros de ouro que “mudaram de lado” na Batalha das 12 Casas é justificada
Durante a batalha das 12 casas, os cavaleiros de ouro que sobrevivem ao encontro com os cavaleiros de bronze acabam ficando impossibilitados de ajudar Seiya e companhia por diversos motivos. Com isso, não fica aquela pulga atrás da orelha de “por que diabos o Mu não acompanhou os quatro se ele já sabia que havia algo de errado no Santuário?”, ou por que Aiolia não acaba indo em auxílio daqueles que ele já sabia que estavam “do lado certo”.
O que eu não gostei
1. Vilão não-cavaleiro desnecessário
No início, não é apenas o Santuário que ameaça a nova reencarnação da deusa Atena. Uma fundação comandada por um ex-amigo de Mitsumasa Kido quer matar não apenas Saori, mas todos os cavaleiros e pôr um fim à Guerra Santa de uma vez por todas.
Óbvio que ele fracassa, mas não sem gerar algumas mudanças um tanto incômodas em minha opinião, como a origem dos cavaleiros negros. Um plot totalmente desnecessário na história, sinceramente. E ainda impediu a recuperação dos cavaleiros de bronze depois que eles finalmente se livraram dos cavaleiros de prata — não que isso tenha sido usado no roteiro.
2. Essência do Máscara da Morte foi levemente alterada
A batalha do cavaleiro de ouro de Câncer contra Shiryu segue praticamente como foi contada no anime clássico, que acredito ser bem fiel ao mangá. No entanto, Máscara da Morte retorna posteriormente em um mini-arco totalmente sem sentido, e tem sua essência alterada.
Se você não quiser saber detalhes do enredo, especialmente do que foi mudado em relação ao anime clássico, recomendo pular para o próximo item.
Em um determinado episódio, Saori fica perto da morte mesmo com ainda quatro chamas acesas no relógio. Seiya é enviado para ajudá-la à beira do Buraco da Morte, na Colina do Yomotsu. Lá, o cavaleiro de Pégaso encontra Máscara da Morte de volta do Buraco e conversando com Saori, “testando” o espírito da Atena e Aldebaran tentando ajudá-la. No final tudo dá certo, e ele volta para o mundo dos mortos pelo Buraco, mas não sem antes dar um sorriso de satisfação por ter visto que a determinação de Atena estava forte (graças ao Seiya, devo dizer).
3. Inserções desnecessárias durante a Batalha das Doze Casas
O mini-arco da busca pelo segredo do Grande Mestre em Star Hill é interessante, mas vários outros mini-arcos foram inseridos desnecessariamente durante a Batalha das 12 Casas. De cabeça eu cito, além do episódio que mudou a essência do Máscara da Morte (e ainda causou um erro de continuidade envolvendo Aldebaran de Touro), uma batalha totalmente sem sentido entre os outros cavaleiros de bronze e alguns de prata.
Neste segundo caso, acompanhamos Jabu de Unicórnio, Geki de Urso, Ichi de Hidra, Nachi de Lobo e Ban de Leão Menor enfrentarem cavaleiros de prata que já haviam sido vencidos por Seiya, Marin e Ikki. De maneira meio bizarra, Moses de Baleia, Asterion de Cães de Caça e Dante de Cérbero aparecem no local onde Saori repousa para suportar a flecha espetada em seu peito com a intenção de matá-la, e são confrontados pela turma “secundária” de bronze.
Uma batalha sem sentido e com um final que tem ainda menos justificativa, com uma virada de chave totalmente do nada que fez os cavaleiros de prata passarem a apoiar a Atena.
4. Justificativa para os cavaleiros de ouro não questionarem o Mestre do Santuário querer matar a Atena é fraca
Os cavaleiros DE ATENA existem para defendê-la. Não engoli o fato de todos os cavaleiros de ouro que não viram a profecia completa simplesmente aceitarem a ordem de matar Atena porque o Mestre do Santuário assim decidiu. Se a sua existência é para proteger alguém e, mesmo com uma profecia, alguém decide que esse alguém deve morrer, o mínimo que você deveria fazer é tentar entender o que levou a pessoa a tomar essa decisão.
“Ah, mas a Atena ia causar a destruição do planeta”. Não importa. Algo está errado aí nessa decisão, até porque ela morrendo não havia nenhuma garantia de que tudo daria certo.
Onde assistir
- Netflix: 1ª Temporada (12 episódios) | eventos anteriores à Batalha das 12 Casas
- Crunchyroll: 2ª e 3ª Temporadas (24 episódios) | Batalha das 12 Casas